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OPINIÃO: Quando o Carnaval passar

Estamos vivendo uma época tão surreal que a própria capacidade de indignação parece restrita às escolas de samba. Infelizmente, ela vai passar quando o Carnaval acabar e tudo voltar ao marasmo atual. Diante do avanço da direita, a nossa esquerda envergonhada prefere se omitir. A própria imprensa divulga a conduta pornográfica do presidente Bolsonaro, mas evita se posicionar. Em qualquer país sério, o presidente, ao divulgar vídeo pornográfico na internet, estaria em maus lençóis. A pressão seria tanta que ele se obrigaria a renunciar. Aqui, tudo acaba na Quarta-feira de Cinzas.

Enquanto a equipe econômica do governo "esquenta os tamborins" para a Reforma da Previdência, não se escuta nenhuma voz ao contrário. Em uma só voz (e a grande imprensa fazendo coro!), todos repetem que sem a reforma o país quebra. Ninguém se pergunta para onde irá o dinheiro economizado às custas dos nossos futuros aposentados. Alguns ingênuos ou mal-intencionados, dirão que será para a construção de escolas, hospitais etc. Conversa fiada. É certo que irá diminuir o déficit público, mas esse dinheiro não irá beneficiar a massa da população. Ao contrário, é ela que pagará a conta, contribuindo por mais tempo e se aposentando mais tarde. Os verdadeiros beneficiados são os credores do governo (rentistas e bancos) que compram títulos da dívida pública.

O déficit da Previdência não foi o único responsável pelo rombo das contas públicas. Em primeiro lugar, deve ser destacado o peso das desonerações fiscais dadas às empresas - a verdadeira causa da queda de Dilma. Em 2014, ela perdeu o controle da situação e utilizou os bancos públicos para "maquiar" o déficit. Nada que os governos anteriores não tivessem feito também. Mas como o destino político de Dilma já estava selado, isso serviu de pretexto para o seu afastamento. Tanto é verdade que o déficit fiscal se manteve no mesmo patamar no governo Temer. O ponto é que se os subsídios (desonerações) continuarem sendo dados às empresas (o que é muito provável!), a reforma será apenas uma transferência de renda dos mais pobres aos mais ricos.

Nossa esquerda envergonhada precisa reagir e dar a "cara a tapa". Sem uma penitência o PT não conseguirá se reconciliar com a classe média, que sempre foi a sua base principal de sustentação. Desiludida, ela se "bandeou" para a direita. Não por uma questão ideológica claro, mas por uma questão de vingança. Na hora da raiva, ninguém costuma se lembrar, por exemplo, que, nos governos Lula, havia superávit fiscal (receita maior que a despesa) da ordem de 3,5% do PIB, mesmo estando incluído no cálculo o déficit da Previdência. As pessoas se esquecem também das políticas sociais dos governos petistas.

O principal pecado do PT foi a soberba. Tutelou os movimentos sociais que, hoje, desorganizados, são incapazes de esboçar uma reação em defesa dos direitos sociais dos trabalhadores. Isso levou o partido a perder a classe média. Reconquistá-la será o seu maior desafio no futuro e, arrisco a dizer, de sua própria sobrevivência.

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